sábado, 27 de abril de 2013


28/04/2013 as 02:30hs da madrugada

Todos os domingos costumo postar assuntos para refletir, e hoje estou iniciando o BALAIO DE IDEIAS,com temas polemicos mais inportantes.




Somos muitos sendo um só

Muitos e muitas moram em mim. E são esses[as] muitos[as] que se unem em um só a fim de escrever para este blog.  Às vezes quem escreve é uma pessoa, cuja experiência vivida deseja transmitir aos leitores; outras vezes é o pai espiritual, que aproveita a ocasião para “puxar as orelhas” dos filhos; algumas poucas vezes é o “poeta” que mora escondido e que só se expressa quando sente não mais suportar a dureza da vida; dias há que quem escreve é o Juraci responsável e comprometido com um blog, e que mesmo sem inspiração faz sua mente esforçar-se para que o letor.possa ter uma boa reflexão. O artigo de hoje foi escrito pelo Babalôrisá que lutou, e luta, para que o trabalho de seus antecessores não tenha sido em vão; para que o candomblé, religião professada por eles e por mim, não seja temido e sim respeitado. Entendendo que o respeito advém do entendimento, optei por escrever uma sequência de artigos que colaborem para um melhor entendimento do instinto religioso, o qual é inerente aos seres humanos, e como o candomblé lida com esta parcela da grandiosa, complexa e inalcançável natureza humana.

Nem o grande e importante avanço da ciência, para quem a comprovação de dados é fundamental, impediu ou diminuiu a necessidade que tem o homem de conexão com o misterioso mundo divino, que se acostumou a denominar de processo religioso. Muito se discute se uma corrente religiosa é seita ou religião, como se um simples termo pudesse definir um estado de ser. Isso só ocorre porque a humanidade ainda opta pela rivalidade, concorrendo com pessoas que pretendem a mesma coisa: comungar com o divino. Eu mesmo, como humano que sou, quando sinto em alguém a tentativa de desvalorizar a religião que professo, esqueço-me que ela não precisa de defesa e termino por cair no jogo da rivalidade entre as religiões: um sentimento vaidoso me toma e afirmo que o candomblé é uma religião constitucional, composta de cosmogonia, dogmas, liturgia, rituais, blá, blá, blá… Esses termos são úteis, sim, quando o intuito é apresentar as diferentes formas que cada grupo encontra para manifestar sua relação com o mundo divino. É uma maneira didática de transmitir conhecimentos de modo que estes possam ser entendidos com uma maior facilidade.

É comum conceituar-se seita usando-se como critério a etimologia da palavra. Isso implica dizer que seita é um segmento, uma facção independente, de uma religião já organizada. Não creio estar o problema no fato de um grupo religioso ser uma seção de outro, mas, sim, no fato de um líder religioso, seja ele iyalorixá, padre, pastor, monge, etc., tentar neutralizar o livre pensar de seus liderados, além de excitar a rivalidade entre membros de crenças aparentemente diferentes da sua. Afinal, não existe “o meu deus” e, sim, a ideia de deus. Respeitar o pensar do outro talvez seja a principal característica de um verdadeiro religioso, pois esta é uma das formas de se estar conectado com o divino que existe em cada filho de Deus, consequentemente com Deus. Respeitar até o direito do grupo de pessoas que não acredita em Deus – os ateus, que de tanto preconceito sofrido, perceberam a necessidade de fundar uma associação – ATEA –, que busca diminuir o desconhecimento sobre esta forma de pensar.

De maneira variada, as religiões ou seitas encontram a forma própria de exercitar sua crença. É, entretanto, possível perceber elementos comuns a todas elas, que são, exatamente, a cosmogonia, a liturgia… Nesses elementos estão guardados os pensamentos subjetivos de cada grupo religioso, os quais independem de comprovação científica e servem para estruturar o ser humano consigo e com a comunidade em que vive. Somos muitos em um só. Serei professora na série de artigos que se seguirá, tentando transmitir aos leitores como os adeptos do candomblé entendem o surgimento do cosmo (cosmogonia); realizam sua liturgia (rituais públicos); aceitam seus dogmas (verdades inquestionáveis de um grupo) e praticam seus rituais (cerimônias realizadas em momentos específicos).
 
JURACI "DOYÀ TOPÈ BABALÔRISÁ,SACERDOTE DO YLÊ ASÉ "D"OYÁ TOPÉ, TEMPLO DE CULTOS DE RAIZ AFRICANA DA NAÇÃO KETÚ

 



 
Na encruzilhada da vida
 
Quando se fala em encruzilhada, imediatamente surge na cabeça dos brasileiros a ideia de Exu e de “bozó”, nome pelo qual o povo gosta de designar as oferendas que o povo de candomblé faz fora do terreiro-templo. Claro que a referida divindade está, sim, ligada aos entrecruzamentos de caminhos. Mas o simbolismo da encruzilhada e, consequentemente, da cruz está presente em muitas religiões, sendo, assim, universal. O catolicismo soube enaltecer e ao mesmo tempo popularizar a imagem da cruz, mostrando Jesus sacrificando-se pela humanidade, momento em que ultrapassou seu estágio humano. A cruz, com seus quatro “braços” que apontam para os quatro pontos cardeais, é símbolo de orientação no espaço, para que a jornada humana não seja perdida.
A encruzilhada, portanto, é um lugar de pausa, um momento parado no tempo, que leva à mudança de um estágio a outro ou, simplesmente, de uma situação a outra. Quando, portanto, oferendas nas encruzilhadas são depositadas, está se pedindo inspiração para o novo caminho que se deseja trilhar. Está se pedindo a quem? A Exu, que é, na crença nos orixás, a divindade orientadora dos caminhos, responsável por mostrar a direção correta a ser tomada, tendo em vista que as dúvidas e incertezas possam, por fim, dar o descanso necessário à mente. Exu é a nossa bússola, aquele que nos protege para que não fiquemos desnorteados. Afinal, enquanto seres humanos, nós somos muito instáveis.
Em rituais celebrados pelo candomblé, a característica de instabilidade do ser humano é cantada: Pákun aboìxá; Ibà pa ràn tán axó dá ma aro; a fi dà wa rá àxé akó ma orixá; orixá wa baba alaye = Apague o fogo dos incêndios e nos proteja do aguaceiro; apague o fogo, o calor que se alastra; termine com as muitas discussões e tristezas criadas; nós somos instáveis, transforme-nos, imploramos sempre pelas suas instruções e sua doutrina, orixá. Seja nosso mestre, o dono do nosso modo de viver. Cecília Meireles, em seu poema Ou isto ou aquilo, também nos lembra dessa particularidade, que tanto desgaste dá à mente humana:
“Ou se tem chuva e não se tem sol/ ou se tem sol e não se tem chuva!// Ou se calça a luva e não se põe o anel/ ou se põe o anel e não se calça a luva!// Quem sobe nos ares não fica no chão,/ quem fica no chão não sobe nos ares.// É uma grande pena que não se possa/ estar ao mesmo tempo em dois lugares!// Ou guardo o dinheiro e não compro o doce/ ou compro o doce e gasto o dinheiro.// Ou isto ou aquilo… ou isto ou aquilo…/ e vivo escolhendo o dia inteiro!// Não sei se brinco, não sei se estudo/ se saio correndo ou fico tranquilo// Mas não consegui entender ainda/ qual é melhor, se é isto ou aquilo.”
A vida nos coloca sempre em encruzilhadas, onde somos obrigados a escolher que atitude tomar, por isto se diz que é na encruzilhada que se encontra o destino. É que as encruzilhadas, isto é, os cruzamentos de caminhos, são espaços sagrados, daí a responsabilidade que se deve ter com os rituais e, consequentemente, os pedidos feitos nestes locais. Por exemplo, é comum o hábito de se depositar oferendas para determinadas “entidades”, com o objetivo de conseguir um amor. Inocentes pessoas que, sem o conhecimento devido, não sabem que os amores assim conseguidos são passageiros, tanto que em latim a palavra encruzilhada é conhecida como trivium, significando aquilo que é trivial, que é efêmero.
Repetindo, as encruzilhadas são lugares sagrados onde se pede ajuda aos deuses para que tenhamos critérios nas escolhas feitas, a fim de não nos perdermos no caminho. São também nesses locais que pessoas que possuem o devido preparo espiritual, com muita responsabilidade e respeito, realizam rituais cuja finalidade é despachar, no sentido de expulsar, as energias negativas, que o sagrado consegue transmutar em energias positivas, para depois serem devolvidas aos homens, já livre de todas as impurezas. Pois as encruzilhadas são lugares, e momentos, de reflexão para escolha do caminho a seguir, mas também são lugares naturais para que possamos nos desvencilhar das negatividades por nós criadas ou em nós respingadas.
 
de Juraci dOyá Topé sacerdote de cultos de matriz Africana
 
 
 
 
 
Olhos magros: uma nova tendência
 
 
A minha função espiritual faz de mim uma intermediário entre o humano e o sagrado e para exercê-lo da melhor maneira possível tenho como instrumento o Jogo de Búzios. Pessoas de diferentes idades, raças e até mesmo credos, buscam a ajuda desse oráculo. Surpreende-me o fato de que uma grande parte dos que me procuram sente-se vítimas de inveja.
Engraçado é que nunca, nem um só dia sequer, alguém chegou pedindo-me ajuda para se libertar da inveja que sentia dos outros. Será que só existem invejados? Onde estarão os invejosos? E o pior é quando consulto o oráculo e ele me diz que os problemas apresentados não são decorrentes de inveja, a pessoa fica enfurecida.
Percebo logo que existe ali uma profunda insegurança, que gera uma necessidade de autovalorização. Se isso ocorresse apenas algumas vezes, menos mal, o problema é que esse comportamento é uma constante. Isso me leva a pensar que cada pessoa precisa olhar dentro de si, tentar perceber em que grau a inveja existe dentro dela, para assim buscar controlar e emanar este sentimento, de modo que ela não venha a atuar de maneira prejudicial ao outro, mas principalmente a si, pois qualquer energia que emitimos, reflete primeiro em nós mesmos.
Uma fábula sobre a inveja serve para nossa reflexão: Uma cobra deu para perseguir um vagalume, cuja única atividade era brilhar. Muito trabalho deu o animalzinho brilhante à insistente cobra, que não desistia de seu intento. Já exausto de tanto fugir e sem possuir mais forças o vagalume parou e disse à cobra: – Posso fazer três perguntas? Relutante a cobra respondeu: – Não costumo conversar com quem vou destruir, mas vou abrir um precedente. O vagalume então perguntou: -Pertenço à sua cadeia alimentar?- Não, respondeu a cobra. – Fiz algum mal a você-?- Não, continuou respondendo a cobra.- Então por que me persegue?- perplexo, perguntou o brilhante inseto. A cobra respondeu: – Porque não suporto ver você brilhar, seu brilho me incomoda.
Ingênuas as pessoas que pensam que o brilho do outro tem o poder de ofuscar o seu. Cada um possui seu brilho próprio, que deve estar de acordo com sua função. Existem até pessoas cujas funções requerem simplicidade, onde o brilho natural só é percebido através do reflexo do olhar do outro.
Lembro-me de uma garotinha de apenas 10 anos de idade que a mãe me procurou para ajudá-la, pois ela ficava furiosa quando não tirava nota dez na escola. Comportamento que fazia com que seus coleguinhas se afastassem dela. Algumas tardes eu passei conversando com a garota. Um dia ela chegou me dizendo que não aparesentava mais o referido problema, que até tirou nota dois e não se incomodou.
Fiquei muito feliz, cheguei mesmo a ficar vaidoso, pois acreditei que aquela nova atitude era resultado de nossas conversas. Foi quando ela me disse:- Sabe por que não me incomodei de tirar nota dois, Pai Juraci? Ansioso, perguntei:- Por que? Ao que ela me respondeu: – Porque o resto da turma tirou nota um. Rimos juntos da minha pretensa sabedoria de conselheiro e do natural instinto de vaidade que ela possuía e que muito trabalho teria para domá-lo. O desejo que a garota possuía de brilhar mais do que os outros, com certeza atrairia para ela muitos problemas. Afinal, ela não queria ser sábia, ela queria ser vista.
O caso contado anteriormente fez lembrar-me de outro que eu presenciei, onde uma senhora repleta de ouro insistia em me dizer que as pessoas estavam olhando para ela com inveja. Cansado daquele queixume, disse-lhe que quem não quer ser visto, não se mostra.
A inveja é popularmente conhecida com olho gordo. Se não queremos ser atingidos pelo olho gordo do outro, devemos cuidar para que que nossos olhos emagreçam, não deixando que eles cresçam com o desejo de possuir o alheio. Já que fazemos dieta para nossos corpos serem saudáveis, devemos também fazer dieta para nossos olhos, pois eles refletem a beleza da alma. A tendência agora é, portanto, olhos magrinhos, mas não anoréxicos, pois alguns desejos eles precisam ter, de preferência desejos saudáveis.
Juraci dOyá Topé
 
 
 
 
As brincadeiras antigas eram sadias,para o desenvolvimento de nossas crianças
 
 

Muito me assustou ouvir pela televisão que crianças de apenas quatro anos de idade já estão sendo levadas aos consultórios médicos com: dores nos músculos, articulações e nervos decorrentes de esforços repetitivos pelo uso excessivo e sem disciplina de aparelhos eletrônicos; dores na coluna por uso de sapatos inadequados para a idade, sapatos com saltos que causam desajustes no esqueleto ainda em formação; obesidade, diabetes e pressão alta por falta de movimentos físicos. Se o moderno estilo de vida é excelente para o desenvolvimento cerebral das crianças, o mesmo não é possível dizer em relação a um correto e saudável desenvolvimento físico e psicológico.

Tarefa nada fácil é permitir que as crianças sejam crianças, diante do apelo da sociedade moderna que tem a seu favor um rico sistema de propaganda e comércio. Como impedir que uma criança calce sapatos de salto alto, se nem são mais encontrados nas lojas calçados adequados para esta fase do desenvovimento. O que antes era uma brincadeira que preparava a entrada no mundo adulto, hoje vestir-se como os pais tornou-se uma regra, que mal nenhum teria se não afetasse a saúde física e psíquica dos pequenos. É de conhecimento de todos que maquiagem, ou melhor, produtos químicos em geral estragam a pele, as unhas, os cabelos; que não respeitar a fases de desenvolvimento faz com que as crianças amadureçam antes do tempo. E a fruta e o ser humano só são bons quando lhes é permitido amadurecerem naturalmente.

Nada adianta ficarmos relembrando o passado com saudosismo. É impossível pararmos a marcha do tempo. O melhor é respeitarmos o seu caminhar e nos adaptarmos a ele. Também não podemos e nem devemos acreditar que temos mais poder do que a sociedade na criação de nossos filhos. Dou, então, minha colaboração relembrando algumas brincadeiras infantis que coloboram para um perfeito desenvolvimento global das crianças. Mas, relembrar apenas não me parece suficiente, pois creio que nenhum pai e nenhuma mãe se esqueceram das brincaderias que tanto lhes deram prazer. Se não as transmitem para os filhos creio que seja porque não encontram não apenas tempo, mas também espaço.

Diante desta reflexão, parece que os espaços de diversão e de convívio entre os pequenos ficam sendo as escolas, para quem, então, transmito ensinamentos pouco ou nada divulgados ao grande publico, por serem eles conhecimentos iniciáticos, que encontram apenas agora o momento ideal para serem compartilhados. Não sendo a minha intenção colocar mais uma tarefa nas mãos dos professores, mas sim conhecendo a grandiosa missão que ocupam no mundo e a imensa capacidade de doação que possuem, eu tentarei transmitir para eles o significado místico, isto é misterioso, de algumas brincadeiras que eles “curtiram”.

· Cabra-cega, que fala da paixão, mostrando que os apaixonados agem por instinto, que termina por deixá-los tontos e cegos perante as escolhas que fazem na vida.
· Macaquinho ou Amarelinha fala da jornada humana que vai do “inferno” ao “céu”, passando o caminhante por diversos obstáculos, representado pela casca de banana, os quais podem derrubá-lo, atrapalhando e atrasando sua caminhada.
· Anelzinho, objeto que representa um compromisso firmado e que por isto dá nome à brincadeira que surge para demonstrar a necessidade que todos têm de assumir alguém como mestre, atitude que implica em que se tenha humildade sufiente para entender que sempre existe alguém mais apto do que nós.
· Boca-de-forno é outro tipo de diversão infantil que fala dá relação mestre-discípulo, neste caso para relembrar a importância da obediência irrestrita àquele que o universo destinou como orientador.

Fico aqui pedindo que Ibeji, os orixás gêmeos que são crianças, estimulem os adultos de maneira que possam orientar os pequeninos para que sejam disciplinados, sem perderem o direito de serem traquinas. E que no mês de outubro as crianças brinquem, brinquem, brinquem… utilizando-se de formas de brincar que não apenas ajudem a organizar suas mentes mas tambem seu corpo fisico r rspiritual.
De Juraci doyá topé, sacerdote de religião de matriz africana, nação Ketú


 
Não descendo de escravos !
Sou descendente de príncipes,guerreiros, odés ,yas,ojés e obás !!!
De um povo maravilhoso que constitui a primeira civilização da Terra .
Um povo rico em cultura ,história e luta . Um povo que foi escravizado pela mente insana e preconceituosa do outros que acreditavam que éramos inferiores simplesmente por termos a cor de nossa pele Preta.
Tenho orgulho de possuir no sangue um pouco desse povo maravilhoso , e por ter sido marcado no tom de minha cor , essa historia de luta ,suor e AMOR    

Juraci doyá topé

Nenhum comentário: