28/04/2013 as 02:30hs da madrugada
Todos os domingos costumo postar assuntos para refletir, e hoje estou iniciando o BALAIO DE IDEIAS,com temas polemicos mais inportantes.
Somos muitos sendo um só
Muitos e muitas moram em mim. E são esses[as] muitos[as] que se
unem em um só a fim de escrever para este blog. Às vezes
quem escreve é uma pessoa, cuja experiência vivida deseja transmitir
aos leitores; outras vezes é o pai espiritual, que aproveita a ocasião para
“puxar as orelhas” dos filhos; algumas poucas vezes é o “poeta” que mora
escondido e que só se expressa quando sente não mais suportar a dureza da vida;
dias há que quem escreve é o Juraci responsável e comprometido com um blog, e
que mesmo sem inspiração faz sua mente esforçar-se para que o letor.possa ter uma boa reflexão. O artigo de hoje foi escrito pelo Babalôrisá que lutou, e
luta, para que o trabalho de seus antecessores não tenha sido em vão; para que o
candomblé, religião professada por eles e por mim, não seja temido e sim
respeitado. Entendendo que o respeito advém do entendimento, optei por escrever
uma sequência de artigos que colaborem para um melhor entendimento do instinto
religioso, o qual é inerente aos seres humanos, e como o candomblé lida com esta
parcela da grandiosa, complexa e inalcançável natureza humana.
Nem o grande e importante avanço da ciência, para
quem a comprovação de dados é fundamental, impediu ou diminuiu a necessidade que
tem o homem de conexão com o misterioso mundo divino, que se acostumou a
denominar de processo religioso. Muito se discute se uma corrente religiosa é
seita ou religião, como se um simples termo pudesse definir um estado de ser.
Isso só ocorre porque a humanidade ainda opta pela rivalidade, concorrendo com
pessoas que pretendem a mesma coisa: comungar com o divino. Eu mesmo, como
humano que sou, quando sinto em alguém a tentativa de desvalorizar a religião
que professo, esqueço-me que ela não precisa de defesa e termino por cair no
jogo da rivalidade entre as religiões: um sentimento vaidoso me toma e afirmo
que o candomblé é uma religião constitucional, composta de cosmogonia, dogmas,
liturgia, rituais, blá, blá, blá… Esses termos são úteis, sim, quando o intuito
é apresentar as diferentes formas que cada grupo encontra para manifestar sua
relação com o mundo divino. É uma maneira didática de transmitir conhecimentos
de modo que estes possam ser entendidos com uma maior facilidade.
É comum conceituar-se seita usando-se como
critério a etimologia da palavra. Isso implica dizer que seita é um segmento,
uma facção independente, de uma religião já organizada. Não creio estar o
problema no fato de um grupo religioso ser uma seção de outro, mas, sim, no fato
de um líder religioso, seja ele iyalorixá, padre, pastor, monge, etc., tentar
neutralizar o livre pensar de seus liderados, além de excitar a rivalidade entre
membros de crenças aparentemente diferentes da sua. Afinal, não existe “o meu
deus” e, sim, a ideia de deus. Respeitar o pensar do outro talvez seja a
principal característica de um verdadeiro religioso, pois esta é uma das formas
de se estar conectado com o divino que existe em cada filho de Deus,
consequentemente com Deus. Respeitar até o direito do grupo de pessoas que não
acredita em Deus – os ateus, que de tanto preconceito sofrido, perceberam a
necessidade de fundar uma associação – ATEA –, que busca diminuir o
desconhecimento sobre esta forma de pensar.
De maneira variada, as religiões ou seitas
encontram a forma própria de exercitar sua crença. É, entretanto, possível
perceber elementos comuns a todas elas, que são, exatamente, a cosmogonia, a
liturgia… Nesses elementos estão guardados os pensamentos subjetivos de cada
grupo religioso, os quais independem de comprovação científica e servem para
estruturar o ser humano consigo e com a comunidade em que vive. Somos muitos em
um só. Serei professora na série de artigos que se seguirá, tentando transmitir
aos leitores como os adeptos do candomblé entendem o surgimento do cosmo
(cosmogonia); realizam sua liturgia (rituais públicos); aceitam seus dogmas
(verdades inquestionáveis de um grupo) e praticam seus rituais (cerimônias
realizadas em momentos específicos).
JURACI "DOYÀ TOPÈ BABALÔRISÁ,SACERDOTE DO YLÊ ASÉ "D"OYÁ TOPÉ, TEMPLO DE CULTOS DE RAIZ AFRICANA DA NAÇÃO KETÚ
Na encruzilhada da vida
A encruzilhada, portanto, é um lugar de pausa, um
momento parado no tempo, que leva à mudança de um estágio a outro ou,
simplesmente, de uma situação a outra. Quando, portanto, oferendas nas
encruzilhadas são depositadas, está se pedindo inspiração para o novo caminho
que se deseja trilhar. Está se pedindo a quem? A Exu, que é, na crença nos
orixás, a divindade orientadora dos caminhos, responsável por mostrar a direção
correta a ser tomada, tendo em vista que as dúvidas e incertezas possam, por
fim, dar o descanso necessário à mente. Exu é a nossa bússola, aquele que nos
protege para que não fiquemos desnorteados. Afinal, enquanto seres humanos, nós
somos muito instáveis.
Em rituais celebrados pelo candomblé, a
característica de instabilidade do ser humano é cantada: Pákun aboìxá; Ibà pa
ràn tán axó dá ma aro; a fi dà wa rá àxé akó ma orixá; orixá wa baba alaye =
Apague o fogo dos incêndios e nos proteja do aguaceiro; apague o fogo, o calor
que se alastra; termine com as muitas discussões e tristezas criadas; nós somos
instáveis, transforme-nos, imploramos sempre pelas suas instruções e sua
doutrina, orixá. Seja nosso mestre, o dono do nosso modo de viver. Cecília
Meireles, em seu poema Ou isto ou aquilo, também nos lembra dessa
particularidade, que tanto desgaste dá à mente humana:
“Ou se tem chuva e não se tem sol/ ou se tem sol
e não se tem chuva!// Ou se calça a luva e não se põe o anel/ ou se põe o anel e
não se calça a luva!// Quem sobe nos ares não fica no chão,/ quem fica no chão
não sobe nos ares.// É uma grande pena que não se possa/ estar ao mesmo tempo em
dois lugares!// Ou guardo o dinheiro e não compro o doce/ ou compro o doce e
gasto o dinheiro.// Ou isto ou aquilo… ou isto ou aquilo…/ e vivo escolhendo o
dia inteiro!// Não sei se brinco, não sei se estudo/ se saio correndo ou fico
tranquilo// Mas não consegui entender ainda/ qual é melhor, se é isto ou
aquilo.”
A vida nos coloca sempre em encruzilhadas, onde
somos obrigados a escolher que atitude tomar, por isto se diz que é na
encruzilhada que se encontra o destino. É que as encruzilhadas, isto é, os
cruzamentos de caminhos, são espaços sagrados, daí a responsabilidade que se
deve ter com os rituais e, consequentemente, os pedidos feitos nestes locais.
Por exemplo, é comum o hábito de se depositar oferendas para determinadas
“entidades”, com o objetivo de conseguir um amor. Inocentes pessoas que, sem o
conhecimento devido, não sabem que os amores assim conseguidos são passageiros,
tanto que em latim a palavra encruzilhada é conhecida como trivium, significando
aquilo que é trivial, que é efêmero.
Repetindo, as encruzilhadas são lugares sagrados
onde se pede ajuda aos deuses para que tenhamos critérios nas escolhas feitas, a
fim de não nos perdermos no caminho. São também nesses locais que pessoas que
possuem o devido preparo espiritual, com muita responsabilidade e respeito,
realizam rituais cuja finalidade é despachar, no sentido de expulsar, as
energias negativas, que o sagrado consegue transmutar em energias positivas,
para depois serem devolvidas aos homens, já livre de todas as impurezas. Pois as
encruzilhadas são lugares, e momentos, de reflexão para escolha do caminho a
seguir, mas também são lugares naturais para que possamos nos desvencilhar das
negatividades por nós criadas ou em nós respingadas.
de Juraci dOyá Topé sacerdote de cultos de matriz Africana
Olhos magros: uma nova tendência
A minha função espiritual faz de mim uma
intermediário entre o humano e o sagrado e para exercê-lo da melhor maneira
possível tenho como instrumento o Jogo de Búzios. Pessoas de diferentes idades,
raças e até mesmo credos, buscam a ajuda desse oráculo. Surpreende-me o fato de
que uma grande parte dos que me procuram sente-se vítimas de inveja.
Engraçado é que nunca, nem um só dia sequer,
alguém chegou pedindo-me ajuda para se libertar da inveja que sentia dos outros.
Será que só existem invejados? Onde estarão os invejosos? E o pior é quando
consulto o oráculo e ele me diz que os problemas apresentados não são
decorrentes de inveja, a pessoa fica enfurecida.
Percebo logo que existe ali uma profunda
insegurança, que gera uma necessidade de autovalorização. Se isso ocorresse
apenas algumas vezes, menos mal, o problema é que esse comportamento é uma
constante. Isso me leva a pensar que cada pessoa precisa olhar dentro de si,
tentar perceber em que grau a inveja existe dentro dela, para assim buscar
controlar e emanar este sentimento, de modo que ela não venha a atuar de maneira
prejudicial ao outro, mas principalmente a si, pois qualquer energia que
emitimos, reflete primeiro em nós mesmos.
Uma fábula sobre a inveja serve para nossa
reflexão: Uma cobra deu para perseguir um vagalume, cuja única atividade era
brilhar. Muito trabalho deu o animalzinho brilhante à insistente cobra, que não
desistia de seu intento. Já exausto de tanto fugir e sem possuir mais forças o
vagalume parou e disse à cobra: – Posso fazer três perguntas? Relutante a cobra
respondeu: – Não costumo conversar com quem vou destruir, mas vou abrir um
precedente. O vagalume então perguntou: -Pertenço à sua cadeia alimentar?- Não,
respondeu a cobra. – Fiz algum mal a você-?- Não, continuou respondendo a
cobra.- Então por que me persegue?- perplexo, perguntou o brilhante inseto. A
cobra respondeu: – Porque não suporto ver você brilhar, seu brilho me
incomoda.
Ingênuas as pessoas que pensam que o brilho do
outro tem o poder de ofuscar o seu. Cada um possui seu brilho próprio, que deve
estar de acordo com sua função. Existem até pessoas cujas funções requerem
simplicidade, onde o brilho natural só é percebido através do reflexo do olhar
do outro.
Lembro-me de uma garotinha de apenas 10 anos de
idade que a mãe me procurou para ajudá-la, pois ela ficava furiosa quando não
tirava nota dez na escola. Comportamento que fazia com que seus coleguinhas se
afastassem dela. Algumas tardes eu passei conversando com a garota. Um dia ela
chegou me dizendo que não aparesentava mais o referido problema, que até tirou
nota dois e não se incomodou.
Fiquei muito feliz, cheguei mesmo a ficar
vaidoso, pois acreditei que aquela nova atitude era resultado de nossas
conversas. Foi quando ela me disse:- Sabe por que não me incomodei de tirar nota
dois, Pai Juraci? Ansioso, perguntei:- Por que? Ao que ela me respondeu: –
Porque o resto da turma tirou nota um. Rimos juntos da minha pretensa sabedoria
de conselheiro e do natural instinto de vaidade que ela possuía e que muito
trabalho teria para domá-lo. O desejo que a garota possuía de brilhar mais do
que os outros, com certeza atrairia para ela muitos problemas. Afinal, ela não
queria ser sábia, ela queria ser vista.
O caso contado anteriormente fez lembrar-me de
outro que eu presenciei, onde uma senhora repleta de ouro insistia em me dizer
que as pessoas estavam olhando para ela com inveja. Cansado daquele queixume,
disse-lhe que quem não quer ser visto, não se mostra.
A inveja é popularmente conhecida com olho gordo.
Se não queremos ser atingidos pelo olho gordo do outro, devemos cuidar para que
que nossos olhos emagreçam, não deixando que eles cresçam com o desejo de
possuir o alheio. Já que fazemos dieta para nossos corpos serem saudáveis,
devemos também fazer dieta para nossos olhos, pois eles refletem a beleza da
alma. A tendência agora é, portanto, olhos magrinhos, mas não anoréxicos, pois
alguns desejos eles precisam ter, de preferência desejos saudáveis.
Juraci dOyá Topé
As brincadeiras antigas eram sadias,para o desenvolvimento de nossas crianças
Muito me assustou ouvir pela televisão que
crianças de apenas quatro anos de idade já estão sendo levadas aos consultórios
médicos com: dores nos músculos, articulações e nervos decorrentes de esforços
repetitivos pelo uso excessivo e sem disciplina de aparelhos eletrônicos; dores
na coluna por uso de sapatos inadequados para a idade, sapatos com saltos que
causam desajustes no esqueleto ainda em formação; obesidade, diabetes e pressão
alta por falta de movimentos físicos. Se o moderno estilo de vida é excelente
para o desenvolvimento cerebral das crianças, o mesmo não é possível dizer em
relação a um correto e saudável desenvolvimento físico e psicológico.
Tarefa nada fácil é permitir que as crianças
sejam crianças, diante do apelo da sociedade moderna que tem a seu favor um rico
sistema de propaganda e comércio. Como impedir que uma criança calce sapatos de
salto alto, se nem são mais encontrados nas lojas calçados adequados para esta
fase do desenvovimento. O que antes era uma brincadeira que preparava a entrada
no mundo adulto, hoje vestir-se como os pais tornou-se uma regra, que mal nenhum
teria se não afetasse a saúde física e psíquica dos pequenos. É de conhecimento
de todos que maquiagem, ou melhor, produtos químicos em geral estragam a pele,
as unhas, os cabelos; que não respeitar a fases de desenvolvimento faz com que
as crianças amadureçam antes do tempo. E a fruta e o ser humano só são bons
quando lhes é permitido amadurecerem naturalmente.
Nada adianta ficarmos relembrando o passado com
saudosismo. É impossível pararmos a marcha do tempo. O melhor é respeitarmos o
seu caminhar e nos adaptarmos a ele. Também não podemos e nem devemos acreditar
que temos mais poder do que a sociedade na criação de nossos filhos. Dou, então,
minha colaboração relembrando algumas brincadeiras infantis que coloboram para
um perfeito desenvolvimento global das crianças. Mas, relembrar apenas não me
parece suficiente, pois creio que nenhum pai e nenhuma mãe se esqueceram das
brincaderias que tanto lhes deram prazer. Se não as transmitem para os filhos
creio que seja porque não encontram não apenas tempo, mas também espaço.
Diante desta reflexão, parece que os espaços de
diversão e de convívio entre os pequenos ficam sendo as escolas, para quem,
então, transmito ensinamentos pouco ou nada divulgados ao grande publico, por
serem eles conhecimentos iniciáticos, que encontram apenas agora o momento ideal
para serem compartilhados. Não sendo a minha intenção colocar mais uma tarefa
nas mãos dos professores, mas sim conhecendo a grandiosa missão que ocupam no
mundo e a imensa capacidade de doação que possuem, eu tentarei transmitir para
eles o significado místico, isto é misterioso, de algumas brincadeiras que eles
“curtiram”.
· Cabra-cega, que fala da paixão,
mostrando que os apaixonados agem por instinto, que termina por deixá-los tontos
e cegos perante as escolhas que fazem na vida.
· Macaquinho ou Amarelinha fala da jornada humana que vai do “inferno” ao “céu”, passando o caminhante por diversos obstáculos, representado pela casca de banana, os quais podem derrubá-lo, atrapalhando e atrasando sua caminhada.
· Anelzinho, objeto que representa um compromisso firmado e que por isto dá nome à brincadeira que surge para demonstrar a necessidade que todos têm de assumir alguém como mestre, atitude que implica em que se tenha humildade sufiente para entender que sempre existe alguém mais apto do que nós.
· Boca-de-forno é outro tipo de diversão infantil que fala dá relação mestre-discípulo, neste caso para relembrar a importância da obediência irrestrita àquele que o universo destinou como orientador.
· Macaquinho ou Amarelinha fala da jornada humana que vai do “inferno” ao “céu”, passando o caminhante por diversos obstáculos, representado pela casca de banana, os quais podem derrubá-lo, atrapalhando e atrasando sua caminhada.
· Anelzinho, objeto que representa um compromisso firmado e que por isto dá nome à brincadeira que surge para demonstrar a necessidade que todos têm de assumir alguém como mestre, atitude que implica em que se tenha humildade sufiente para entender que sempre existe alguém mais apto do que nós.
· Boca-de-forno é outro tipo de diversão infantil que fala dá relação mestre-discípulo, neste caso para relembrar a importância da obediência irrestrita àquele que o universo destinou como orientador.
Fico aqui pedindo que Ibeji, os orixás gêmeos que
são crianças, estimulem os adultos de maneira que possam orientar os pequeninos
para que sejam disciplinados, sem perderem o direito de serem traquinas. E que
no mês de outubro as crianças brinquem, brinquem, brinquem… utilizando-se de
formas de brincar que não apenas ajudem a organizar suas mentes mas tambem seu corpo fisico r rspiritual.
De Juraci doyá topé, sacerdote de religião de matriz africana, nação Ketú
Sou descendente de príncipes,guerreiros, odés ,yas,ojés e obás !!!
De um povo maravilhoso que constitui a primeira civilização da Terra .
Um povo rico em cultura ,história e luta . Um povo que foi escravizado pela mente insana e preconceituosa do outros que acreditavam que éramos inferiores simplesmente por termos a cor de nossa pele Preta.
Tenho orgulho de possuir no sangue um pouco desse povo maravilhoso , e por ter sido marcado no tom de minha cor , essa historia de luta ,suor e AMOR
Juraci doyá topé
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