quarta-feira, 26 de junho de 2013


Futebol

Brasil sofre, mas despacha o Uruguai e avança à decisão


A equipe de Felipão enfrentou dificuldades para furar o bloqueio uruguaio, mas um gol salvador de Paulinho - aos 40 do segundo tempo - garantiu a ida ao Rio

          
   
Jogador Paulinho, após marcar o segundo gol do Brasil contra o Uruguai, pela Copa das Confederações em Belo Horizonte
Jogador Paulinho, após marcar o segundo gol do Brasil contra o Uruguai, pela Copa das Confederações em Belo Horizonte - Jefferson Bernardes

Muito experiente, a equipe uruguaia não permitiu que o Brasil repetisse o início sufocante de suas três primeiras partidas na competição - e ainda conseguiu um pênalti, defendido por Júlio César

Tudo parecia lembrar uma tarde distante há 63 anos, no Estádio do Maracanã: clima de festa, um gol para aliviar a tensão e caminho aberto para a vitória, pouco antes de um gol dos visitantes e de momentos de muita apreensão. Desta vez, porém, quem fez o 2 a 1 foi o Brasil, que espantou o fantasma uruguaio e as memórias de 1950 e carimbou a ida à final da Copa das Confederações. A vitória, selada com gols de Fred e Paulinho, nos momentos finais, e com muita luta, garantiu a chance do tetracampeonato brasileiro na competição. Jogando diante de 57.000 pessoas no Mineirão, a seleção desta vez não foi bem: ao contrário das partidas da fase de grupos, em que mostrou um futebol dinâmico e convincente, em Belo Horizonte a equipe de Luiz Felipe Scolari esbarrou na força e na disciplina tática dos uruguaios. Na bola parada, arrancou o gol da vitória e seguiu com sua campanha irrepreensível: quatro jogos, quatro vitórias. O vencedor agora embarca rumo ao Rio de Janeiro, onde disputa a grande final, no domingo, às 19 horas (de Brasília), no Maracanã, contra o vencedor da outra semi, entre Itália e Espanha, na quinta, na Arena Castelão, em Fortaleza. Os perdedores vão para Salvador, onde acontece a disputa de terceiro lugar, também no domingo, às 13 horas.

Sustos - Muito experiente, a equipe uruguaia não permitiu que o Brasil repetisse o início sufocante de suas três primeiras partidas na competição. Além de não deixar que a seleção pressionasse, o time visitante adiantou sua marcação e também buscou atacar, esfriando a animação da torcida mineira. Com o jogo embolado e travado, o Uruguai mantinha a bola no campo de ataque, conseguindo vários escanteios. Na cobrança de um deles, David Luiz agarrou Lugano na área de forma bisonha e cometeu pênalti, aos 13 minutos. Diego Forlán bateu no canto esquerdo de Júlio César, que pulou no momento certo e espalmou para fora, levantando o público, que parecia muito assustado com o domínio uruguaio. O primeiro chute a gol do Brasil aconteceu só aos 16 minutos, com Oscar, de longe, batendo por cima. Por volta dos 20 minutos, a equipe de Felipão enfim começou a criar dificuldades para os uruguaios, mantendo a posse de bola por mais tempo e cruzando bolas perigosas sobre a área defendida pelo goleiro Muslera. Aos 23, numa temtativa pelo alto na pequena área brasileira, Júlio César e David Luiz se enroscaram e Rodriguez quase marcou de cabeça, encobrindo o goleiro. O torcedor mineiro sofria com as dificuldades encontradas pela seleção.

O Brasil só voltou a criar uma oportunidade de gol aos 27 minutos, quando Hulk, aos trancos e barrancos, invadiu a área, aproveitou uma sobra e chutou de perna esquerda, forte mas totalmente fora do alvo. Mas o Uruguai não se contentava em defender: aos 29, Forlán recebeu da esquerda, deu um belo giro e quase acertou o ângulo de Júlio César. Na reta final do primeiro tempo, a torcida aplaudia e vibrava com Neymar - não pela atuação do craque, que era discreta, mas por perceber que só um lampejo de criatividade do camisa 10 seria capaz de surpreender o fortíssimo esquema defensivo celeste. Aos 36 minutos, o centroavante Fred foi acionado pela primeira vez, mas dividiu com o zagueiro Godín e não conseguiu acertar a finalização. Na segunda oportunidade, o camisa 9 não perdoou. Aos 40 minutos, Neymar recebeu lindo lançamento em profundidade de Paulinho e tocou na saída de Muslera, que abafou. A bola sobrou para Fred, que precisou de um leve toque para empurrar para as redes. O Brasil terminava o a etapa inicial no lucro: além do pênalti desperdiçado por Forlán e das boas situações criadas pelo ataque celeste, o Brasil, pouco inspirado e refém da arapuca montada pelo técnico Óscar Tabárez, fazia sua pior exibição até agora no torneio.


Equilíbrio - O placar ficou mais justo logo aos 2 minutos da etapa final, quando Edinson Cavani aproveitou uma série de falhas da zaga brasileira e, depois de um corte malfeito do capitão Thiago Silva, bateu seco e rasteiro, deixando tudo igual. O Mineirão ficou em silêncio. Mostrando maturidade, Neymar não se abalou com o gol uruguaio e passou a chamar a responsabilidade para si, tentando várias jogadas em velocidade pelo lado esquerdo. Nada que intimidasse a sempre corajosa seleção celeste, que jogava de igual para igual, também buscando o ataque. A falta de criatividade do Brasil, muito previsível em suas investidas, era preocupante. Felipão chamou o caçula Bernard, ídolo do Atlético-MG, para tentar mudar o jogo. Hulk deixou o campo. Aos 21 minutos, Bernard fez sua primeira boa jogada, fintando e cruzando para Fred finalizar com perigo. Em nova jogada iniciada por ele, Oscar achou Neymar, que bateu forte, mas Muslera agarrou. Na metade do segundo tempo, o Brasil enfim pressionava e era incentivado pelo público. Felipão decidiu colocar Hernanes no lugar de Oscar. Mas quem levava perigo era o Uruguai - aos 33 minutos, Cavani quase virou após jogada de Suárez. O gol salvador veio aos 40 minutos, quando os uruguaios já pareciam satisfeitos com a ideia de jogar a prorrogação. Após cobrança de escanteio de Neymar, Paulinho subiu no segundo pau e escorou firme, fuzilando Muslera.



Os personagens
  • A muralha Júlio César
    Eleito o melhor em campo na votação promovida pela Fifa, defendeu o pênalti batido por Forlán num momento decisivo do duelo, mantendo o time vivo
  • O coringa Paulinho
    O volante com habilidade digna de um meia fez um lançamento lindo na jogada do primeiro gol e ainda marcou o tento da vitória (além de marcar muito...)
  • O perna-de-pau David Luiz
    O pênalti cometido logo no começo do jogo foi um lance de atleta inexperiente. O zagueiro também cometeu outras falhas comprometedoras no jogo
» Confira os números de todos os jogadores

Segurança - Não houve seleções presas em seus hotéis, jogadores transportados por helicópteros, torcedores impedidos de chegar ao estádio ou autoridades escondidas dos manifestantes. Os piores temores dos organizadores não se confirmaram nos momentos que antecederam a partida desta quarta. A manifestação iniciada na região central de Belo Horizonte decidiu seguir a caminho do palco do jogo, na Pampulha, mas a promessa era de que os grupos retornariam pelo mesmo caminho quando chegassem à barreira policial que protege o estádio. Dentro do perímetro de segurança montado pela polícia mineira conforme solicitação da Fifa (em operação que se repete em todas as partidas da competição), não havia transtornos para os envolvidos na partida decisiva. O deslocamento das seleções aconteceu normalmente, de ônibus, no horário previsto e sem atrasos - a delegação do Brasil cruzou o portão do Mineirão às 14h10. Às 14h30, o secretário-geral da Fifa, Jérôme Valcke, acompanhado por auxiliares e autoridades federais e estaduais, deixava o estacionamento da área vip do estádio a caminho do interior da arena. Aparentava tranquilidade e cumprimentava as pessoas no caminho.

Não foram só os times e os cartolas que chegaram ao Mineirão sem sobressaltos. A uma hora do jogo, pelo menos metade das cadeiras já estavam tomadas. A meia hora do pontapé inicial, o estádio tinha poucos assentos vazios - e a animação da torcida era equivalente ou talvez até maior que a dos jogos anteriores do Brasil no torneio, em Brasília, Fortaleza e Salvador. Os torcedores uruguaios marcavam presença, mas em pequeno número. Por causa da preocupação com possíveis atos hostis nas vias de acesso ao estádio, os portões foram abertos uma hora antes aos torcedores (ao invés das 13 horas, ao meio-dia). Sob forte segurança e com presença policial em todos os acessos, a movimentação do público era absolutamente tranquila. Fora do perímetro de segurança, a manifestação seguia pela Avenida Antônio Carlos, principal via de acesso à região da Pampulha, com poucos sinais de problemas. A polícia monitorava a situação à distância, evitando uma proximidade desnecessária, que pudesse despertar a fúria dos manifestantes dispostos a partir para o confronto com os PMs. No momento em que o jogo começava, um grupo se desgarrou da marcha e partiu em direção ao Mineirão. A polícia, atingida por pedras, usou bombas de gás lacrimogêneo para contê-los






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O Brasil vai descobrindo neste inverno que multidões indignadas fazem milagres


O enterro sem choro nem vela da PEC 37, decretado pela Câmara nesta terça-feira por 430 votos contra 9, confirmou que multidão indignada faz milagre. Faz até deputado brasileiro criar juízo, constatou. Quando junho começou, os vigaristas que infestam e controlam a Casa dos Horrores estavam prontos para aprovar a proposta de emenda constitucional que proibiria o Ministério Público de promover investigações criminais. Antes que o mês chegasse ao fim, a patifaria foi sepultada em cova rasa.
Surpreendidos pelos atos de protesto que incluíram a rejeição da PEC 37 entre as bandeiras da revolta das ruas, os arquitetos da trama primeiro tentaram empurrar a votação para agosto. Até lá, imaginaram, os manifestantes teriam desistido de combater a corrupção impune. Erraram feio. O truque serviu apenas para aproximar a temperatura do ponto de combustão. Só então os conspiradores acharam sensato curvar-se  à vontade de incontáveis brasileiros exaustos de truques e tapeações.
A PEC 37 pretendia punir o Ministério Público não por seus defeitos, mas por suas virtudes. Foi concebida não para inibir eventuais excessos cometidos por promotores e procuradores, mas para impedi-los de obstruir caminhos que levam para longe da cadeia a bandidagem cinco estrelas. Precedida pela revogação do aumento das tarifas do transporte público, a capitulação  da turma que reduziu o Congresso a um clube dos cafajestes ensina que reivindicações nascidas na internet só vingam se ratificadas pela voz das ruas.
O abaixo-assinado virtual que protestava contra a volta de Renan Calheiros à presidência do Senado foi subscrito por mais de 1,5 milhão de eleitores. Deu em nada. Menos de 50 mil na porta do Congresso bastaram para enterrar a PEC da Impunidade (além de fazer um bando de indolentes trabalhar como nunca e, num caso exemplar de suicídio induzido, aprovar a toque de caixa um projeto que conferiu à corrupção status de crime hediondo. Se a coisa tivesse efeito retroativo, o Senado e a Câmara ficariam desertos). Quantos manifestantes serão necessários para obrigar Renan a renunciar ao cargo? Logo saberemos.
Também saberemos em breve se a ofensiva até aqui bem sucedida conseguirá livrar-se dos baderneiros, manter o vigor, encontrar alguma forma de organização e não perder o rumo. Caso se dê a favorável conjunção dos astros, a instauração de uma CPI da Copa se tornará questão de tempo, o Maracanã escapará das mãos dos eikes batistas, o STF tratará de acelerar o julgamento do mensalão e os ministros recém-chegados não ousarão socorrer quadrilheiros condenados à prisão. Fora o resto.
O que já ocorreu é suficiente para que o inverno de 2013 seja lembrado como a estação das descobertas essenciais. Primeiro, os brasileiros descobriram que pagam todas as contas e são tungados há anos. Depois descobriram que o Brasil Maravilha só existe num palanque ambulante e na cabeça habitada por um neurônio solitário. Descobriram em seguida que Lula, Dilma e o PT são campeões de popularidade apenas entre donos de institutos de pesquisa, e que o exército de milicianos decididos a morrer pelo PT só é capaz de matar de rir.
Por falta de partidos que os representassem, descobriram também que poderiam ser seus próprios porta-vozes. Vão descobrindo agora que, num regime democrático, o Executivo, o Legislativo e o Judiciário não podem atrever-se a ignorar, subestimar ou sufocar um poder muito maior. O poder que emana do povo.

Juraci Ferreira

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